Opinião

Quando a agenda cansa

Há semanas em que a política parece uma sucessão infindável de temas. Um atrás do outro, sem tempo para respirar. Um escândalo, uma resposta, uma comissão, uma entrevista, uma reação a uma reação. Tudo urgente. Tudo importante. Tudo agora.

Mas há um momento em que a agenda cansa. Não porque os assuntos não mereçam atenção, mas porque se percebe que nem todos estão ali para os resolver. Estão ali para os usar.

Usar o tema do dia como arma de arremesso. Usar a indignação como ferramenta. Usar o caos como estratégia. E assim, sem darmos por isso, começamos a discutir tudo… e a resolver rigorosamente nada.

É claro que a atualidade exige resposta. Mas quando a política entra num modo de hiperatividade constante, há um risco real de deixarmos de distinguir o essencial do acessório. De tratarmos tudo com o mesmo tom. De perdermos a noção de que há coisas que precisam de mais tempo do que um ciclo noticioso de 24 ou 48 horas.

Este cansaço da agenda não é só nosso, de quem vê de fora. Também se sente dentro. Há decisores públicos que tentam trabalhar a sério e são constantemente puxados para a espuma. Para o comentário. Para o soundbite.

Mas esse barulho desgasta. A pressa dos assuntos desgasta. E um país cansado da política é um país perigoso — porque começa a achar que qualquer solução serve, desde que traga silêncio. No outro tempo dizia-se: “está tudo bem e de outra forma não poderia ser”.

A política não pode ser só reação. Tem de voltar a ser direção. E, para isso, às vezes é preciso parar, respirar, escolher e priorizar.

Porque um país não se governa só por agenda. Governa-se com propósito!

 

(Crónica escrita para Rádio)